domingo, 17 de maio de 2009

"Jazzpencando"
“Não. Não quero mais falar” – ela disse. “Sai, não me puxa” – continuou dizendo. “Eu sei, eu só preciso arrancar teu coração e mastigar” – dizia arranhado a voz. “Você sabe que eu sou assim, me aceita”. “Não!”. Enquanto engolia a bola azeda, derrubou o café frio. “Tá tudo sujo, eu sou suja, me aceita!”. “Não!”. A boca tremeu e ela começou a vomitar. Vomitou tudo, principalmente o que nunca existiu. A boca continuava tremendo. “É o choro” – pensava, “quero morrer” – pensava, “me mata” – pensava, “me ama” – pensava. “Não te amo mais” – ela ouvia. “Não te suporto mais!” – ela ouvia. “Me abraça, esquece tudo e me abraça” – implorava, enquanto sentia o estômago enrolar. “Me abraça, transa comigo e me abraça” – pedia, enquanto a pele ficava oleosa. “Me abraça, me come, me mata” – pensava, enquanto a certeza à estrangulava. Com a maquiagem manchada, o nariz pingando e as mãos sujas de café, ela derreteu até o chão, como se estivesse ajoelhada em água morna e morreu, ao som de Lester Young.

Um comentário:

monica disse...

uau. café forte, vinho seco arranhando a garganta.